Uma novela que parece ter tido uma inspiração literária, embora não creditada, foi a novela Insensato Coração. Sua personagem Norma (Glória Pires) tem uma saga muito parecida com a d'O Conde de Monte Cristo de Alexandre Dumas. Ela foi presa injustamente, conheceu na cadeia alguém que tinha uma grande quantia escondida e após sair da cadeia usou essa quantia para por em prática sua vingança contra quem a prendeu.
Avenida Brasil, de João Emanuel Carneiro, tentou um formato novo. Não que as anteriores não tentassem tornar todos os capítulos espetáculos a parte, com desfechos que deixassem no telespectador a vontade de assistir o seguinte. Todas tentam, faz parte do formato. Se esse elemento não funciona bem, a vida útil da novela diminui.
O mérito de Avenida Brasil, fenômeno nas redes sociais, e que precisa ser aturada até por quem não a assiste; foi o excesso de referências (do cult, passando pelo intelectual, ao pop) e o formato de série americana, onde cada capítulo deve contar uma história completa. Não conseguiu em todos, assim como os seriados com episódios independentes, vez ou outra nos aparece com um "to be continued"; mas alguns poderiam ser assistidos sozinhos, sem perda alguma de sentido, como um filme.
Muitas pessoas dizem odiar novelas (estão em seu direito), outros, hipocritamente, dizem que elas influenciam negativamente as massas. Não se pode negar que as periguetes estão em alta graças à novela, mas não se pode negar que Crime e Castigo, nas mãos erradas, incentivaria um "assassinato filosófico" com um sentido maior e justificável. Imaginem então um livro (entre meus preferidos) como Clube da Luta nas mãos erradas! Imaginem quantos clubes da luta literais surgiram do protesto anarco-primitivista de Chuck Palahniuk.
Ouvi uma boa frase de um membro qualquer do agonizante site Orkut, que me parece muito pertinente: "Novelas não influenciam pessoas, pessoas é que influenciam novelas". Antes da Suelen aparecer em trajes curtos pregando o sexo livre e descompromissado, a Tati Quebra Barraco e a Valesca Popozuda já cantavam isso em suas músicas.
O Kuduro e o Tchu Tchá Tchá não foram disseminados pela novela, mas incorporados pela moda atual. Essa novela, ao invés de criar uma realidade artificial, onde a maioria dos brasileiros não se encaixava, como fizeram as outras; está tentando fisgar a classe em ascensão e seus gostos.
Voltando às muitas referências que aparecem na novela, vamos começar pelos livros. Grandes clássicos da Literatura brasileira e mundial, que se inspirassem os jovens a lê-los já seria um feito muito além de todas as outras novelas juntas e que, contornando a hipocrisia, poderia ser discutido em sala de aula.
A Metamorfose, de Franz Kafka, sugere uma profunda transformação do ingênuo ex-jogador Tufão. Madame Bovary, de Flaubert, tenta alertar o mesmo sobre o adultério de sua esposa Carminha. O clássico Dom Casmurro (meu preferido) falava de um ciúme doentio. Como o do Leleco pela Tessália (com seus olhos de cigana oblíqua e dissinulada). O fato de ela ser parecida com a Maria Fernanda Cândido na série Capitu (os olhos enigmáticos e os cabelos ondulados) só reforça essa referência. O momento em que ela recebe seu irmão de criação gay (mas nem tanto), criou, ou tentou criar, a mesma ambiguidade do livro-inspiração.
Mas as referências mais interessantes são cinematográficas. A viagem a Cabo Frio com a velha Kombi, que precisa ser empurrada para funcionar, vem de A Pequena Miss Sunshine. A personagem Ágata, filha da vilã Carminha, gordinha, carismática, que adora dançar e tem muita auto-estima mesmo quando tentam destruí-la; é a própria Olive do adorável filme de 2006.
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E como não poderia deixar de ser, a cena da Nina sendo enterrada viva, referência declarada da também vingadora Beatrix Kiddo de Kill Bill.
E vocês, perceberam alguma outra referência?
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